quarta-feira, 30 de maio de 2012

Investigação nas Universidades Gera Empregos e Exportações

:: Investigação nas Universidades Gera Empregos e Exportações ::

Porque será que não é trivial perceber que o investimento e a investigação nas universidades é indispensável para o crescimento a longo-prazo das economias e sociedades modernas?

A análise desta questão não é nova, tem sido recorrente em todo o mundo, sobretudo para contrariar movimentos neo-liberais e, eventualmente, de natureza autista e pouco esclarecida. Ainda no passado domingo, Thomas Friedman, o conhecido colunista do New York Times, vencedor de muitos prémios Pulitzer, para quem "o mundo é plano", argumentava sobre o perigo dos "lugares comuns" associados aos já famosos movimentos populistas de apoio público ao "empreendedorismo" libertino e egocêntrico. Dizia ele que as nações que não investem no futuro colectivo tendem a não ser bem sucedidas.

A questão não é certamente ser contra o empreendedorismo de sucesso, que todos procuramos, mas antes contra a miopia face ao mesmo, sobretudo de governantes com responsabilidades públicas. Ou seja, ignorar que o sucesso de muitos empreendedores de hoje advém de importantes investimentos em ciência e educação e, sobretudo, da acumulação ao longo de muitos anos desses investimentos.

Desenvolvendo o argumento de Friedman, o investimento nas nossas instituições e oportunidades colectivas, sobretudo através da investigação nas nossas universidades, é a melhor forma de contrariar a desigualdade crescente num mundo onde alguns empreeendedores enriquecem de uma dia para o outro, enquanto as universidades e os centros de investigação que os formam vêm os seus recursos a diminuir.

Os Portugueses começam a saber hoje o que representa o investimento continuado em investigação nas universidades e o seu papel no estímulo progressivo a empresas inovadoras e no acesso a mercados globais. A convergência dos últimos anos do investimento em investigação (I&D) para os valores médios europeus foi muito importante, mas ainda não é suficiente. Em Portugal ainda só investimos em I&D cerca de 1,6% da riqueza gerada. E a acumulação desse investimento é ainda muito reduzida face a qualquer zona industrialmente desenvolvida e com acesso aos mercados emergentes. Ainda em 2005 esse valor era apenas de 0.8%.

Os últimos dados conhecidos para Portugal mostram que o total das exportações das 100 empresas que mais investiram em I&D nos últimos anos representou mais de 25% das exportações nacionais e cresceu a uma taxa sensivelmente 4 vezes superior à das exportações do conjunto da economia nacional nesse mesmo período. Por outro lado, o valor gerado em Portugal pelo conjunto das 100 empresas que mais investiram em I&D nos últimos anos, expresso em termos de "valor acrescentado bruto" (VAB), cresceu a uma taxa aproximadamente 10 vezes superior à do VAB gerado no conjunto da economia nacional.

Igualmente importante foi a criação de novas empresas de base tecnológica e origem académica ter aumentado mais de 130% entre 2007 e 2010 , sendo que estas empresas registaram um crescimento anual médio de 127% na sua faturação e que cerca de 40% dessas novas empresas têm actividades exportadoras. Sabemos que todos estes resultados são ainda pouco relevantes em termos económicos. Mas também sabemos que para o aumento da despesa em I&D se traduzir em inovação tecnológica e crescimento económico, não é indiferente o tipo de financiamento que sustenta essas despesas adicionais nem quem executa a I&D. É a investigação feita nas empresas que mais directamente se relaciona com o aparecimento de novos produtos e processos com possibilidade de exportação para mercados globais, contribuindo para o crescimento da produtividade e reforço da competitividade.

Mas a questão essencial é que também já sabemos que em Portugal, à semelhança de muitas outras regiões à escala mundial, a melhor estratégia para conseguir que se aumente a proporção da despesa executada e financiada pelas empresas consiste num forte e sustentado aumento do financiamento público da I&D, designadamente nas universidades. Esta afirmação é aparentemente contra-intuitiva. De facto, em geral, a despesa pública substitui a despesa privada (i.e., faz o seu "crowding-out"). Se o Estado construir uma estrada até à porta de uma nova fábrica, a empresa que investiu na fábrica não vai construir a estrada: há um efeito de substituição.

Mas na despesa em I&D este efeito de substituição não existe ou é fortemente atenuado. É praticamente inexistente quando se trata de investigação executada em universidades. A investigação traduz-se não só na obtenção de novos resultados científicos e na preparação de docentes e estudantes, mas também na formação de especialistas e de doutorados, e esta é uma das formas mais importantes através da qual contribui para reforçar a oferta desses especialistas, investigadores e técnicos para as empresas e o mercado de trabalho.

Concluindo, o aumento da despesa em I&D efectuada nas universidades e nas empresas, não são uma inevitabilidade, são uma escolha. Esta escolha terá que ser feita pelos portugueses e pelos seus governantes, sendo importante que se esteja consciente que se não continuarmos a crescer nessas áreas, se tornará difícil estimular a inovação tecnológica e a competitividade da nossa economia. Se se quiser atingir esses objectivos, é necessário mobilizar e empregar em Portugal mais novos doutorados, assim como garantir relações científicas e tecnológicas com as principais instituições a nível mundial. E isso só é conseguido estimulando simultaneamente a procura e a oferta da capacidade de executar I&D.

No patamar de desenvolvimento económico e tecnológico em que Portugal se encontra, tal exige um grande e continuado esforço de financiamento público de I&D. Esse financiamento contribuirá não somente para formar os novos doutorados, mas contribuirá também directa e indirectamente para a procura. Foi este o percurso seguido pelos países e regiões que hoje têm uma grande proporção de I&D efectuada e financiada pelas empresas. Quanto mais depressa e com mais empenho Portugal se lançar neste desafio mais rapidamente os conseguirá acompanhar.

Fonte: CRUP
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